Você é um superorganismo!
O que você vai encontrar por aqui: 
  • O que é a microbiota
  • Seu segundo cérebro
  • O que são pré e probióticos
  • Como nutrir sua microbiota
Boa leitura! 
Você já ouviu a frase “o homem é a imagem e semelhança de Deus”? 

Após entender sobre sua microbiota é capaz que reformule tal credo com a máxima: somos a imagem e semelhança da Terra! Isso porque existem mais de 30 trilhões de seres vivos habitando nosso corpo, com mais de 4 mil espécies diferentes, que vivem lado a lado em cooperação para manter a harmonia do todo. 

Como colocou Alanna Collen, autora do livro 10% humano, “o corpo humano, tanto por dentro quanto por fora, forma uma paisagem de habitats tão diversificados como quaisquer outros na Terra. Assim como os ecossistemas do planeta são povoados por diferentes espécies de plantas e animais, os habitats do corpo humano abrigam diferentes comunidades de micróbios”. Somos, em uma visão mais ampla, um santuário da vida microbiana. 
Mas estes seres não estão somente pegando uma carona ou usando nosso corpo como moradia de forma oportunista. Eles prestam uma série de serviços extremamente benéficos para nós, tão importantes que começamos a entender que, na realidade, dependemos radicalmente de nossos micróbios para sermos saudáveis. Indo ainda mais longe, estudos mostram que somos mais “eles” do que “nós”, e que até mesmo o que acreditamos ser nossos desejos e tendências emocionais, podem estar determinados pelas espécies que nos habitam. 

Assim, acreditamos que vale a pena entender mais a fundo sobre nossa microbiota e como ela afeta nossa saúde e bem-estar. Queremos com isso ajudar você não só a conhecer, mas cuidar destes seres que compartilham com você este corpo, construindo uma comunidade de microorganismos benéficos que te trará muita saúde e felicidade!
Fundo no assunto
A incrível população que nos habita


Imagine uma cidade grande como São Paulo, em uma quarta-feira de manhã, com milhões de pessoas transitando nas calçadas, apressadas para chegar ao trabalho e outros compromissos. Transponha isso a um nível microscópico e terá uma ideia do que consiste sua microbiota. Cada ser humano é um superorganismo, uma coletividade de espécies (bactérias em sua maioria, mas também fungos, vírus e arqueias) que coexistem de maneira pacífica e realizam uma série de tarefas para dar suporte e manter a saúde do sistema que habitam.

Originalmente, pensava-se que as bactérias superavam nossas células em uma proporção de 10 pra 1, mas estudos recentes mostram que esta conta estava superestimada. A proporção atual é de 1.3 para 1, o que ainda é impressionante, pois isso significa que somos 43% humanos. Se olharmos para o genoma, nossa “humanidade” fica ainda menor. Nossa microbiota soma entre 2 a 20 milhões de genes (o microbioma), que controlam nosso corpo em conjunto com nossos 22 mil genes humanos. 

Hoje já sabemos que as bactérias são responsáveis por sintetizar determinadas proteínas que produzem vitaminas (como as vitaminas do complexo B) e aminoácidos essenciais, estimular nosso sistema imunológico, eliminar toxinas, reduzir a inflamação, auxiliar na absorção de nutrientes e defender o corpo de invasores patogênicos. 

 

Segundo Alanna Collen, estudos recentes começam a revelar que o papel dos microorganismos presentes no nosso corpo é ainda mais complexo e a composição de nossa microbiota pode estar associada a uma série de doenças como alergias, síndrome do intestino irritável, doenças autoimune, autismo, obesidade, depressão, diabetes, síndrome metabólica, mal de Parkinson, ou seja, grande parte das doenças do século XXI. 


Há dois mil e quinhentos anos atrás, Hipócrates, o pai da medicina moderna, já acreditava que todas as doenças começavam no intestino. Isso antes mesmo de entender profundamente sobre sua anatomia, quanto mais sobre a imensa população de trilhões de micróbios que lá existem. Esse órgão fascinante tem sido inclusive considerado nosso segundo cérebro, já que além de abrigar a maior parte da nossa microbiota, contém cerca de 500 milhões de neurônios, estabelecendo uma conexão direta com nosso cérebro, através do nervo vago, em uma via de mão dupla.

É no intestino que ocorre a produção de mais de 90% da serotonina no corpo, além de outros 30 mensageiros químicos que dizem ao cérebro não só o que fazer, mas o que sentir. Sim, nossas emoções e oscilações de humor tem uma relação direta com nosso intestino, um influenciando o outro. E mais, algumas bactérias e fungos que compõem nossa microbiota intestinal podem mudar o nosso comportamento, nossos desejos alimentares, nosso cheiro e até o tipo de pessoa que nos sentimos atraídos

Neste TEDx, Elaine Hsiao, doutora em neurobiologia e que atualmente pesquisa a relação entre microbiota e células nervosas no Instituto de Tecnologia da Califórnia- Caltech, relata que estudos em ratos livres de germes e colonizados por determinados tipos de bactérias mostraram o quanto uma determinada espécie pode alterar o desenvolvimento e o funcionamento do cérebro. De traços de personalidade como a disposição à sociabilização, transtornos de ansiedade, capacidade de aprendizado, sensação de fome e saciedade, chegando a distúrbios neurológicos como esclerose múltipla, depressão e até autismo, a composição da microbiota tem uma relação direta com a mente. 

Gostamos de pensar que nossa personalidade é uma entidade fixa, fruto de nossos genes e nossas experiências pessoais. Pensar que um microorganismo possa ter tamanha influência sobre nós pode ser desconcertante. E se não bastasse, como colocou Alanna Collen, “se isso não deixa você perplexo o bastante, pense no seguinte: micróbios são transmissíveis. O ato de compartilhar comida e toaletes com outras pessoas representa uma oportunidade para troca de micróbios - tanto para o bem quanto para o mal. A ideia de que traços de personalidade possam ser transmitidos de pessoa para pessoa é capaz de abrir novíssimos horizontes”. Não à toa ficamos parecidos com as pessoas com quem convivemos. 


É verdade que existem uma série de bactérias e vírus perigosos para nossa saúde. Estamos há mais de dois anos na batalha contra um deles: o Sars-cov-2. Ao longo da nossa história vivemos várias epidemias de doenças infecciosas que foram erradicadas a partir de práticas como a vacinação, a higiene hospitalar e o saneamento das águas. A teoria dos germes, de Louis Pasteur, foi uma revolução na medicina e seus estudos nos levaram ao desenvolvimento de antibióticos e a pasteurização de alimentos. 

Desde então, travamos uma guerra contra os micróbios e conseguimos ganhar muitas batalhas. Estas conquistas foram muito significativas e não só salvaram inúmeras vidas, como aumentaram nossa expectativa de vida. Porém, nesta guerra, além de eliminarmos muitos patógenos, levamos com eles muitas bactérias benéficas também. A redução drástica tanto no número como na diversidade da nossa microbiota tem sido associada à ascensão das doenças crônicas do século XXI. 

Tomar água de torneira que contém cloro, fazer uso de antibióticos de forma recorrente, consumir alimentos ultraprocessados com diversos conservantes químicos e agrotóxicos, são práticas que impactam de forma significativa nossa microbiota. Ainda, um estilo de vida estressante e sedentário, com uma alimentação desequilibrada e pobre em fibras, também causam desequilíbrios. Se a destruição for suficientemente extensa, o sistema pode não conseguir se recuperar e entrar em colapso, conhecido como disbiose, o que a longo prazo se desdobra em uma série de doenças crônicas. Distensão abdominal, diarréia ou constipação, aumento de gases, fadiga, candidíase de repetição, mudanças de humor, dor de cabeça, são alguns sinais de alerta que é preciso estar atento, pois podem indicar que sua comunidade está em apuros.
O que dizem por aí
Diversidade -  a chave da vida


Pense em seu intestino como um belo jardim interno. Quanto maior a diversidade de espécies, mais saudável, sustentável e cheia de vida ele é, impactando diretamente na sua saúde. Cada alimento que você consome fortalece um tipo de bactéria, assim, para que sua saúde prospere, você deve cultivar a maior variedade possível de bactérias benéficas com uma dieta variada e natural. Comer pensando em sua microbiota pode ser a chave para conquistar um corpo e uma mente saudável, criando uma comunidade que trabalhe a favor do seu bem estar. 

Alguns especialistas afirmam que devemos ter como meta consumir, no mínimo, 30 espécies diferentes de vegetais por semana, incluindo castanhas, sementes, frutas, verduras, legumes e cereais integrais. Além da diversidade, outros dois aliados para uma microbiota saudável são os pré e os probióticos. Os prebióticos são componentes alimentares não-digeríveis, conhecidos por nutrir e estimular a proliferação de bactérias que contribuem para a nossa saúde. Fibras em sua maioria, presente em abundância em verduras e frutas, algumas mais conhecidas são: a inulina (batata yacon, aspargos, cebola, alho, alcachofra), a pectina (casca de maçã, cenoura, beterraba, rabanete), a lignina (gergelim, linhaça, amêndoas) e fruto-oligossacarídeos (banana, tomate, cereais integrais). 


Probióticos são microorganismos vivos, que quando ingeridos em quantidades adequadas, podem trazer benefícios para a saúde. São encontrados em alimentos fermentados tais como: iogurte natural, missô, chucrute, kimchi, kefir, kombucha e outros. A introdução de alimentos fermentados na dieta faz parte de diversas culturas e muitos alegam que trazem inúmeros benefícios para a saúde

Além dos alimentos fermentados, é possível encontrar probióticos facilmente em farmácias e lojas de produtos naturais no formato de cápsulas e sachês. Porém, a suplementação de probióticos sintéticos tem gerado muita discussão quanto ao seu real benefício para a  microbiota. Parece que, em pessoas saudáveis, a suplementação de probiótico não tem nenhum efeito, e mesmo seu uso após ingestão de antibióticos tem sido colocado em cheque. Isso porque nossa microbiota intestinal é tão individual quanto nossa digital, e pesquisadores afirmam que não há estudos suficientes para dizer se um probiótico funciona ou não para todos. 

Uma nova técnica sendo estudada para introduzir microrganismos no intestino é o transplante fecal. Apesar de causar certo estranhamento, e até repulsa, a ideia de transferir fezes de uma pessoa a outra, os resultados obtidos destes estudos tem se mostrado muito promissores. No Brasil, o primeiro transplante de fezes foi realizado no final de 2014 e de lá pra cá tem aumentado a procura por este tipo de tratamento, em especial contra a infecção de Clostridium difficile, uma bactéria extremamente resistente a antibióticos e que pode levar à morte. 
Alimentando nossa querida comunidade

             

Em uma de nossas matérias no Portal Plenae, comentamos sobre os inúmeros benefícios do mindful eating. Esta prática, que consiste em criar um novo relacionamento com a comida e trazer a atenção plena tanto para a escolha dos ingredientes, quanto para o preparo e a ingestão dos alimentos, pode ser potencializada ainda mais pela consciência de que ao comer, você está em realidade, dando de comer para suas bactérias. 

Imagine quanto bem-estar você gera ao estabelecer uma relação de cuidado e afeto com elas, oferecendo-lhes riqueza e prosperidade nutricional, evitando prejudicá-las com alimentos de má qualidade e substâncias que podem aniquilá-las. Assim, deixamos aqui algumas dicas para fazer boas escolhas a favor da sua microbiota: 

Quer saber mais? Separamos alguns conteúdos que podem te ajudar
a fazer um mergulho ainda mais profundo, não deixe de conferir!

Livro: 10% humano - Alanna Collen


Ted Talk: O que sabemos sobre o microbioma humano?
 

Podcast: Gutcast.br



Série: Corpo Humano - nosso mundo interior  - Netflix
 
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