Você está preparado para viver mais de 100 anos? 
O que você vai encontrar por aqui: 
  • A chegada de um tsunami prateado
  • A terceira maior economia do mundo
  • O que são as agetechs? 
  • Novas formas de moradia na maturidade
  • Dicas para ser jovem aos 101 anos de idade
Boa leitura! 
Você está preparado para viver mais de 100 anos? Se essa pergunta te surpreendeu, saiba que estudiosos acreditam que já nasceu o primeiro ser humano que vai chegar aos 200 anos de idade! Ainda, pesquisas entre a população madura da América Latina indicam que 21% acredita que será centenária. Isso porque está em curso toda uma revolução da longevidade, e se você acompanha nosso portal, já ouviu bastante sobre isso. 

Porém, apesar deste crescimento vertiginoso da população prateada no país e no mundo, esse ainda é um público praticamente invisível na sociedade. Faltam produtos, serviços, mercado de trabalho e políticas públicas pensadas para essa fase da vida, mesmo sendo o grupo que movimenta a terceira maior economia mundial. Ao mesmo tempo, o etarismo - preconceitos ligados à idade -  segue bastante presente na sociedade e muitos acreditam que, após os 70 anos, o que resta é a aposentadoria, a bengala e a espera da morte. 
Mas, se tem algo que esta geração está nos mostrando é que eles não só estão vivendo mais do que seus avós, mas estão mais ativos, saudáveis e independentes do que imaginávamos. São vários os nomes de gerações, como te contamos aqui, mas a geração que revolucionou os anos 60, conhecidos como baby boomers, é a que está novamente rompendo estereótipos e pode nos oferecer uma visão bem mais criativa de nós mesmos. De novas formas de moradia, passando por quebras de tabus em torno da sexualidade e da aparência, chegando ao ativismo e a luta por maior visibilidade, os maduros - como gostam de ser chamados - nos mostram que o futuro é velho e que, daqui a pouco, será a maior fase da vida de uma pessoa. 

Assim, acreditamos que vale a pena seguir aprendendo sobre os longevos e como eles estão revolucionando a maturidade. Esperamos com isso te inspirar a dar mais atenção ao seu eu futuro, afinal, a velhice é o resultado de tudo o que você foi e fez na vida. Portanto, cada escolha de hoje determinará seu amanhã. A jornada parece ser longa, mas a boa notícia é que, se vamos viver mais, teremos a oportunidade de nos reinventar uma e outra vez, vivendo várias vidas dentro de uma só. Não é fascinante? 
Fundo no assunto
Um tsunami prateado


Estamos caminhando rumo ao “século da velhice da humanidade”, em que teremos mais pessoas acima dos 60 anos do que jovens abaixo dos 17. Segundo a pesquisa Tsunami 60+, que se debruçou não só neste fenômeno, mas buscou também compreender quem é essa parcela da população que só tende a crescer, a cada 21 segundos uma brasileira ou brasileiro completa 50 anos de idade. Em 2050, seremos o 6º país mais velho do mundo, chegando a 68 milhões de idosos. 

     

Já temos mais avós que netos atualmente, e isso se dá tanto pelo aumento da expectativa de vida, que apesar de uma redução devido a pandemia, ainda assim saltou de 45,5 anos em 1940 para 71 anos em 2021, como pela diminuição drástica no número de filhos, que na década de sessenta chegava a 6 crianças por família, caindo para 1,7 em 2017. Assim, a revolução da longevidade está relacionada não só ao fato de que vamos viver mais, mas também a uma mudança radical da pirâmide demográfica. 

Em uma palestra bem humorada, Alexandre Correa Lima, fundador do portal Revolução Prateada, nos mostra que entre os anos 2000 e 2050, o número de crianças e adolescentes no Brasil apresentará uma redução de 32%, de adultos entre 20 a 49 anos um aumento de 11%, porém, a população com mais de 50 anos deve aumentar em 286%, acima dos 60 anos 416%, e a população com mais de 90 anos aumentará impressionantes 3.426%. 



A pesquisa liderada por Layla Vallias, fundadora do Hype50+ e coordenadora do estudo Tsunami 60+ e Tsunami Latam, tem mostrado uma enorme diversidade na maturidade. O que antes era genericamente chamado de terceira idade, povoando nosso imaginário com velhinhas fazendo crochê sentadas em cadeira de balanço, possui tanta pluralidade e particularidade que precisaremos rever o que consideramos velhice daqui pra frente. 
              
Estudos sobre o desenvolvimento humano, inclusive, propõem uma nova configuração dos estágios da vida, tanto da idade que antes era considerada adulta, como a idade que consideramos idosa. No debate, a meia idade parece ter se estendido, e se antes uma pessoa era considerada idosa aos 65 anos, agora pesquisadores sugerem que ela pode estar na meia idade. Isso porque o rótulo “idoso” está relacionado a quantos anos a pessoa ainda tem por viver e não ao que ela já viveu. O cálculo normalmente propõe que uma pessoa entra na velhice quando lhe restam até 15 anos de expectativa de vida. Neste sentido, não é um número que irá determinar se uma pessoa é velha ou não, mas sim sua saúde física e mental. 


E o que estamos observando hoje é que, ao olharmos para as pessoas acima dos 60 anos, muitos mitos são quebrados. Segundo o estudo Tsunami Latam, que ampliou a pesquisa sobre os maduros nos países da América Latina, mais de 70% dos entrevistados maiores de 65 anos não achavam que chegariam tão bem nesta idade. A sensação de bem-estar físico e mental inclusive faz com que 21% destes maduros acreditem que ultrapassarão os 100 anos de idade.
                          
Com rotina intensa, essa população está circulando pela cidade, namorando, consumindo, cuidando da saúde e se divertindo. Alguns estão, inclusive, iniciando novas carreiras, explorando novos papéis, criando coragem para assumir sua sexualidade e pondo em marcha um novo movimento social chamado “ageless”, termo que significa “sem idade” e busca romper os estereótipos associados à este momento da vida, trazendo um olhar mais positivo à velhice, como explicamos neste outro tema da vez sobre longevidade. 

Grande parte deles segue trabalhando e, inclusive, ajudam filhos e netos financeiramente. No Brasil, 86% das pessoas acima de 55 anos têm renda própria e 64% das pessoas acima dos 60 anos seguem sendo provedoras da família, mesmo depois de aposentadas, como mostra este vídeo inspirador produzido pelo estudo Tsunami 60+. 


Economia prateada é a soma de todas as atividades econômicas associadas às necessidades e motivações das pessoas com mais de 50 anos. Hoje considerada a terceira maior atividade econômica do mundo, movimenta em média US$ 8,7 trilhões por ano. No Brasil, esse grupo movimenta um montante de quase dois trilhões de reais anuais e só tende a crescer. Mesmo assim, os mais velhos estão longe da mira das empresas, que têm 63% de seus negócios direcionados aos millennials. 
 
                        
O Brasil tem se tornado referência quanto às inovações em produtos, serviços e experiências pensadas para pessoas acima dos 50 anos na América Latina. Segundo o estudo Tsunami Latam, em 2018 foram mapeadas 81 startups com soluções para a longevidade, em 2020 este número cresceu para 343. Ainda assim, temos um longo caminho a percorrer. Dos participantes do estudo citado, 50% sentem que as empresas e as marcas não olham para os consumidores de sua idade. 


Para quem quer empreender, existem muitas oportunidades de atuação, pois este é um mercado considerado praticamente intocado. Um ponto que vem sendo bastante discutido é o design de produtos para o setor, que deve levar em consideração as necessidades especiais que esta fase da vida trás, ao mesmo tempo que cria uma linguagem visual atraente que não grite “velho”, “frágil” e “sem graça”, o que, segundo Claudia Penteado, editora chefe da Fast Company Brasil, é um design “alienador”. Ainda, é preciso aumentar a representatividade nas divulgações das marcas e apresentar ideias que reconheçam o potencial e a riqueza da vida após os 65. 

As agetechs, tecnologias desenvolvidas para atender as necessidades dos idosos, também estão ganhando espaço e só nos Estados Unidos as projeções mostram um crescimento no consumo de produtos tecnológicos pelo público prateado de US$140 bilhões em 2018, para US$623 bilhões em 2050. Focadas, principalmente, nos mercados de saúde e bem-estar digital, o avanço da realidade virtual e de interfaces de voz facilitaram muito a inclusão dos maduros no mundo tech, oferecendo serviços que contribuem nos cuidados médicos, na socialização, no aprendizado contínuo e, especialmente, na sua independência, como comentamos nesta matéria
O que dizem por aí
Criadores de tendências?


 

O público idoso é tão heterogêneo e singular que padronizar a velhice é praticamente uma ofensa à capacidade criativa do ser humano. E é dessa criatividade que surgem, a cada dia, novas tendências. A geração que hasteou bandeiras da contracultura, fomentou movimentos sociais pela liberdade e pela igualdade, está agora hasteando bandeiras na longevidade ativa e buscando experiências alinhadas a valores contemporâneos. Conhecidos como “pleasure growers'', eles esbanjam irreverência, muito estilo, energia, e estão bastante interessados em tecnologia e redes sociais.

Uma forte representante deste grupo é Iris Apfel, hoje com 101 anos de idade. Dona de um estilo extravagante e colorido, está sempre presente nas mais importantes semanas da moda e inspirou um documentário que leva seu nome. E quando o assunto é moda, o jeito despretensioso e particular de se vestir da geração prateada tem chamado a atenção dos mais jovens, que capturam a moda de rua sênior nos inspirando a desapegar um pouco da ditadura do que “pode ou não pode usar”.

Ari Seth Cohen é um exemplo. Fotógrafo e criador do blog Advanced Style, afirma que o estilo, inclusive, se aperfeiçoa com a idade e seu trabalho fez tanto sucesso que virou um livro e um documentário. Também é o caso do perfil @chinatownpretty, que documenta a forma estilosa dos idosos em Chinatowns de diversas cidades dos Estados Unidos, ou o @gramparents, trazendo o melhor das ruas de Nova York. No Brasil já existem algumas iniciativas parecidas, como o @estilovovô no Rio de Janeiro, e o @velhosparentes em São Paulo. 


Uma outra “moda” da terceira idade que vem chamando atenção, ainda que caminhe a passos mais lentos, é a cohousing sênior. Reconhecido como um projeto de engenharia social, é um modelo de comunidade intencional originária na Dinamarca dos anos 70, que busca ser uma alternativa às tradicionais casas de repouso. Como comentamos nesta matéria, muitos asilos são considerados verdadeiros depósitos de idosos e já deveriam estar obsoletos. 

Essa nova experiência de moradia sênior já possui benefícios comprovados pelo governo da Dinamarca na qualidade de vida dos mais velhos, em que destacamos aumento na expectativa de vida em 8 anos, menos idas ao médicos e baixíssimos índices de demências senis e de Alzheimer. Ela preserva a independência das pessoas (cada um tem sua própria casa) ao mesmo tempo que estimula uma convivência intensa com áreas comuns e tarefas compartilhadas, afastando a solidão, considerada hoje uma nova epidemia do mundo moderno e que tem impactos ainda mais graves em pessoas idosas. 
Prateados que valem ouro!

Temos muito o que aprender com esta geração prateada que nos mostra que é possível se renovar a cada ano cumprido, se reinventar a cada mecha de cabelo branco, se superar a cada nova dor que aparece nas articulações. Somos uma sociedade que cultua a juventude eterna e isso não seria um problema se o culto fosse mais direcionado à jovialidade do espírito do que a um apego ao colágeno da pele. 

É claro que correr essa maratona da vida traz desafios reais, sejam eles físicos, emocionais ou financeiros. Não se trata de romantizar a velhice, mas sim de dar o devido valor a jornada e a perseverança em seguir caminhando. É se preparar e cuidar do corpo, da mente, do espírito, das relações. É encontrar novos propósitos, organizar-se para que seu contexto seja favorável e seguir aprendendo continuamente. 

E para te inspirar a manter um espírito mais jovem a cada ano que passa, deixamos aqui algumas lições de vida de Iris Apfel, a centenária que, muito provavelmente, é mais descolada que muitos de nós! 
              
Quer saber mais? Separamos alguns conteúdos que podem te ajudar
a fazer um mergulho ainda mais profundo, não deixe de conferir!

Livro: Longevidade Inteligente: como se preparar para uma vida de 100 anos - Alexandre Correa


Ted Talk: Sobre longevidade

Podcast: Ficar sem fazer nada é abrir a porta para depressão - Plenae



Livro: Velhos demais para morrer - Vinícius Neves Mariano